Dr. Gabriel Teles

pressao alta

A hipertensão arterial sistêmica, também chamada de pressão alta, é um grave problema de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

No Brasil afeta cerca de 1/3 da população. E essa proporção pode chegar a mais de 70% na população acima de 70 anos. É considerada o principal fator de risco cardiovascular, de forma que o seu diagnóstico e tratamento corretos podem evitar mortes por doenças cardíacas e cerebrovascular.

O que é pressão alta?

A pressão arterial é a força que o sangue exerce contra as paredes das artérias enquanto circula pelo nosso corpo. Quando essa pressão está constantemente elevada dizemos que a pessoa tem pressão alta ou hipertensão arterial sistêmica.

A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) sendo expressa por dois valores:

  • Pressão arterial sistólica: é o número mais alto. Seu valor é a pressão nas artérias quando o coração bate.
  • Pressão arterial diastólica: é o número mais baixo. Seu valor é a pressão nas artérias quando o coração está em repouso entre os batimentos.

A hipertensão é geralmente definida como uma pressão arterial igual ou superior a 140 por 90mmHg, ou como popularmente se diz “14 por 9”.

Recentemente novas diretrizes foram publicadas e passaram a classificar a pressão arterial da seguinte forma:

  • Pressão arterial não elevada: abaixo de 120 por 70mmHg – o popular 12 por 7
  • Pressão arterial elevada: entre 120 por 70mmHg e 139 por 89mmHg – de 12 por 7 a “quase” 14 por 9
  • Hipertensão arterial: maior que 140 por 90mmHg – acima de 14 por 9

Ressalta-se que esses números levam em conta a medida da pressão feita no consultório por um especialista.

Essa mudança aconteceu por entender que os pacientes não se tornam hipertensos da noite para o dia, mas que isso acontece de forma gradativa. Desse modo, níveis entre 12 por 7 a “quase” 14 por 9 já devem chamar nossa atenção e merecem um acompanhamento mais de perto. Pacientes com esses valores de pressão se beneficiam de mudanças de estilo de vida para evitar que esses níveis de pressão sigam subindo.

Qual é o médico especialista em pressão alta?

O cardiologista é o médico mais indicado para cuidar do paciente hipertenso, especialmente em casos mais complexos como oscilação da pressão arterial, hipertensão de difícil controle e quando há doenças cardiovasculares associadas.

dr gabriel

O Dr Gabriel Quintana Teles é cardiologista com ampla experiência no diagnóstico, tratamento e acompanhamento da hipertensão arterial.

A partir de que idade devo começar a medir minha pressão?

medindo pressao

Recomenda-se, para todo adulto saudável com idade a partir dos 18 anos de idade, avaliação médica com aferição da pressão arterial a cada 2 anos.

Já para aqueles pacientes com fatores de risco para hipertensão, como idade acima de 40 anos, sobrepeso, tabagismo, diabetes, histórico familiar de pressão alta ou doenças cardiovasculares, essa avaliação deve ser mais frequente, como anualmente.  

O que eu posso sentir quando minha pressão esta alta?

A hipertensão é, na maioria dos casos, uma doença assintomática.

E aqui está o problema: por ser uma doença silenciosa muitas vezes o diagnóstico é feito tardiamente, após muitos anos o início da doença, já numa fase em que pode ter ocorrido complicações graves sem aviso prévio.

Em raros casos podem haver sintomas. Cito aqui os mais comuns:

  • Dor de cabeça e dor na nuca
  • Tontura
  • Sensação que os objetos estão rodando
  • Zumbido no ouvido
  • Falta de ar
  • Dor no perito
  • Visão embaçada
  • Sangramento nasal

Se você sentir algum desses sintomas, procure um médico.

Quais são as causas da pressão alta?

Vários órgãos e sistemas do corpo humano atuam em conjunto para determinar os níveis pressóricos. Cito aqui o coração, os rins, o sistema nervoso central, além de mecanismos vasculares e imunológicos.

A grande maioria dos pacientes com pressão alta tem hipertensão essencial ou primária, para a qual a causa exata permanece desconhecida. Geralmente se desenvolve gradualmente ao longo dos anos. É a forma mais comum, sendo responsável por cerca de 90% dos casos e resulta de uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais:

  • Fatores genéticos: a predisposição genética desempenha um papel importante no desenvolvimento da pressão alta. Se você tem familiares com hipertensão, suas chances de desenvolver a condição aumentam.

  • Idade: com o envelhecimento, as artérias tendem a perder elasticidade. Isso pode aumentar os níveis da pressão arterial.

  • Alimentação inadequada: uma dieta rica em sódio (sal) pode elevar a pressão arterial. Alimentos processados, enlatados e fast food geralmente contêm altos níveis de sal. O excesso de açúcar e gorduras saturadas também contribui para o aumento da pressão arterial.
sal aumenta a pressao
  • Sedentarismo: a falta de atividade física regular é um fator de risco significativo. O exercício físico regular ajuda a manter o peso saudável a controlar a pressão arterial.

  • Obesidade: o excesso de peso aumenta a carga sobre o coração e os vasos sanguíneos. Isso pode levar a um aumento da pressão arterial. A obesidade é uma das principais causas da hipertensão.
obesidade aumenta a pressão
  • Estresse: estresse emocional e psicológico pode contribuir para o aumento da pressão arterial. Além disso, situações estressantes podem levar a hábitos pouco saudáveis, como comer em excesso.

  • Consumo excessivo de álcool: o álcool em excesso pode aumentar a pressão arterial.

  • Tabagismo: fumar danifica as paredes dos vasos sanguíneos e pode elevar a pressão arterial.
evitar tabaco

Como podemos perceber, alguns destes fatores são “modificáveis”, ou seja, podem ser alterados de acordo com mudanças nos hábitos de vida ou tratamento direcionado prevenindo o surgimento de hipertensão arterial.

Aproximadamente 10% dos pacientes têm hipertensão secundária. Por vezes pode surgir de repente e cursar com níveis de pressão de difícil controle. Essa forma de hipertensão tem uma causa identificável:

  1. Apneia Obstrutiva do Sono: é uma causa significativa de hipertensão secundária, especialmente em pacientes com hipertensão resistente. Caracteriza-se por ronco, pausas respiratórias durante o sono e sonolência diurna.
  2. Doença Renal Crônica: a redução na função dos rins pode ter inúmeras causas, inclusive a própria hipertensão, levando a um ciclo vicioso, além de diabetes, glomerulonefrites, infecções urinarias de repetição e doença renal policística.
  3. Doença Renovascular: inclui a estenose da artéria renal, que pode ser causada por aterosclerose (placas de gordura) e a displasia fibromuscular.
  4. Doenças endocrinológicas: inúmeras doenças endocrinologias podem causar aumento da pressão arterial devido a secreção inapropriada hormônios. Cito aqui as principais: hipoaldosteronismo primário, hipotireoidismo, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo, síndrome de Cushing, feocromocitoma, paragangliomas e acromegalia.
  5. Hipertensão Induzida por Drogas ou Substâncias: alguns medicamentos podem aumentar a pressão arterial, como anti-inflamatórios não esteroides, contraceptivos orais, corticosteroides e substâncias como álcool e cocaína.
  6. Coarctação da Aorta: uma causa congênita de hipertensão secundária, frequentemente diagnosticada na infância ou adolescência, mas que pode ser descoberta em adultos. Caracteriza-se por hipertensão nos membros superiores e pulsos femorais fracos ou ausentes.

Tais condições devem ser consideradas e investigadas em pacientes com hipertensão resistente, de início precoce, ou com características clínicas sugestivas de uma causa secundária. Quando é realizado o diagnóstico de hipertensão, o cardiologista realiza uma triagem inicial para essas condições, procurando critérios na história do paciente, no exame físico e nos exames complementares iniciais. A identificação e tratamento adequado da causa subjacente pode melhorar significativamente o controle da pressão arterial e, em alguns casos, curar a hipertensão.

Como fazer o diagnóstico de pressão esta alta?

aparelho de pressão

A hipertensão é definida comum uma pressão arterial sistólica confirmada no consultório igual ou maior de 140mmHg (popular 14) OU uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90mmHg (popular 9).

Alguns detalhes devem ser atentados nessa definição:

Tanto a pressão sistólica quanto a diastólica são utilizadas como critérios para o diagnóstico de hipertensão. Ou seja, o paciente pode ter uma delas alterada e outra normal e ainda assim será classificado como hipertenso.

Os valores dever ser confirmados: um único valor de pressão arterial no consultório não é suficiente para fazer um diagnóstico. Isto pode ser feito por meio de novas leituras de pressão arterial no consultório em dias diferentes em consultas subsequentes ou por medidas fora do consultório médico.

Estudos demonstram que a pressão arterial medida no consultório pode não ser suficientemente precisa para diagnosticar a hipertensão devido ao efeito do avental branco (pressão alta no consultório, mas normal fora dele) e à hipertensão mascarada (pressão normal no consultório, mas alta fora dele).

Para que seja feita a confirmação da hipertensão fora do consultório pode ser utilizado o exame de MAPA (monitorização ambulatorial de pressão arterial). A MAPA é um exame realizado por meio de um dispositivo portátil que é conectado ao braço do paciente por meio de um manguito. Este dispositivo é programado para inflar automaticamente e medir a pressão arterial em intervalos regulares ao longo de 24 horas. As leituras são armazenadas no dispositivo para análise posterior por um cardiologista especialista. Quando se utiliza do MAPA os valores considerados para o diagnóstico de hipertensão são diferentes (valores de pressão sistólica maiores ou iguais a 130 mmHg OU de pressão diastólica maiores ou iguais a 80 mmHg nas médias de pressão de 24 horas são considerados como diagnóstico, assim como valores de pressão sistólica maiores ou iguais a 135 mmHg OU de pressão diastólica maiores ou iguais a 85mmHg na vigília ou valores de pressão sistólica maiores ou iguais a 120mmHg OU de pressão diastólica maiores ou iguais a 70 mmHg durante o sono).

Porque devo tratar a pressão alta?

consequencias da pressao alta

A pressão alta é o fator de risco modificável mais importante de morbidade e mortalidade por todas as causas e por doenças cardiovasculares em todo o mundo. Ou seja, tratar pressão é prevenir o surgimento de diversas doenças graves e potencialmente fatais.

Isso acontece porque a hipertensão leva a alterações estruturais e funcionais em diversos órgãos, afetando-os negativamente. Entre os órgãos afetados cito:

  • Coração
  • Cérebro
  • Rins
  • Olhos
  • Vasos sanguíneos

Quando de longa data ou mal controlada, a pressão alta pode levar ao surgimento diversas doenças agudas ou crônicas:

  1. Doença Arterial Coronariana: a hipertensão contribui para o depósito de placas de gorduras nos vasos sanguíneos do coração (aterosclerose coronariana) o que aumenta do risco de angina (dor no peito ao realizar algum esforço) e infarto do miocárdio.
  2. Derrame / Acidente Vascular Cerebral (AVC): a pressão elevada é o principal fator de risco para AVC isquêmico e hemorrágico. O derrame pode causar danos cerebrais e problemas de fala, visão e movimento.
  3. Doença Renal Crônica (DRC): a hipertensão arterial é uma das principais causas de DRC, pois pode danificar os rins, levando a problemas de filtragem do sangue e necessidade de hemodiálise.
  4. Insuficiência Cardíaca: a pressão arterial elevada aumenta a espessura do músculo do coração, e posteriormente levar ao enfraquecimento desse músculo, com redução da função de bomba do coração, o que é chamado de insuficiência cardíaca.
  5. Arritmias: certas arritmias, como a fibrilação atrial, têm intima relação com a hipertensão arterial.
  6. Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP): a hipertensão arterial está associada ao desenvolvimento de aterosclerose (acumulo de gordura) nos vasos que irrigam as pernas, o que pode resultar em claudicação intermitente (dor nas pernas ao caminhar pela má circulação do sangue levando o paciente a parar diversas vezes a caminhada para se recuperar da dor). Em casos graves isquêmica crítica dos membros (quando ocorre dor mesmo em repouso, feridas e úlceras de difícil cicatrização e gangrena) pode ocorrer.
  7. Aneurisma da Aorta: a pressão alta é um fator de risco importante para aneurismas (dilatações) da aorta abdominal e torácica, bem como para dissecção aórtica (ruptura das paredes da aorta) que é o maior vaso sanguíneo do nosso corpo.
  8. Retinopatia Hipertensiva: níveis elevados de pressão arterial podem causar danos aos vasos sanguíneos da retina levando a problemas de visão, como perda da visão e até cegueira.
  9. Demência: a hipertensão crônica está associada a um risco aumentado de demência vascular e doença de Alzheimer.

Como a hipertensão é tratada?

O tratamento da hipertensão geralmente envolve uma abordagem variada baseada em dois pilares:

1. Mudanças de estilo de vida

Tanto as diretrizes europeias e americanas como a brasileira enfatizam a implementação de medidas não farmacológicas com controle da pressão alta. Estas incluem alteração dos hábitos alimentares, realizar atividade física, perder peso, reduzir o consumo de álcool e interromper o tabagismo.

A alimentação deve ser pobre em sódio e rica em potássio. Para isso devemos priorizar alimentos frescos, como frutas, vegetais e leguminosas e evitar alimentos riscos em sal como embutidos.

Pacientes com sobrepeso ou obesidade devem perder peso. A cada um quilograma perdido há uma queda em torno de 1mmHg na pressão arterial.

O exercício físico é muito beneficio para nossa saúde, em especial no controle da pressão arterial. A orientação deve ser personalizada para cada paciente, mas, no geral, recomenda-se cerda de 150 minutos por semana de atividade física aeróbica moderada (caminhada, ciclismo, corrida, dança) combinado com exercícios de resistência (musculação, pilates) 2 a 3 vezes  por semana.

2.  Medicamentos

medicamentos

O tratamento medicamentoso tem por objetivo principal reduzir os níveis de pressão arterial e em consequência diminuir o risco de complicações cardiovasculares.

Também, busca-se preservar a função dos órgãos alvo, como o coração, cérebro e rins, minimizando os danos causados pela hipertensão não controlada ao longo dos anos.

A redução da pressão arterial em hipertensos deve ser feita de forma gradual e sob acompanhamento médico, pois baixar a pressão alta de forma abrupta pode ser perigoso.

A escolha do medicamento hipertensivo

A escolha do medicamento anti-hipertensivo deve ser individualizada, levando em consideração diversos fatores, como a gravidade da hipertensão, a presença de comorbidades, a idade e o perfil de risco cardiovascular do paciente.

Dentre as classes de medicamentos disponíveis, destacam-se:

  1. Diuréticos tiazídicos
  2. Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina
  3. Antagonistas dos Receptores de Angiotensina II
  4. Bloqueadores dos Canais de Cálcio
  5. Bloqueadores dos Receptores de Mineralocorticoides
  6. Betabloqueadores
  7. Alfabloqueadores
  8. Vasodilatadores
  9. Simpatolíticos de Ação Central

Como saber se o tratamento foi efetivo? – a importância do acompanhamento e ajuste do tratamento

o cardiologista pode te ajudar

Após inicio do tratamento da pressão alta o cardiologista irá definir quais são os alvos pressóricos, isto é, quais são os valores de pressão arterial desejados.  Estes alvos variam conforme a idade do paciente, presença de comorbidades, risco cardiovacuar e a tolerância ao tratamento.

De uma maneira geral a pressão sistólica deve ficar entre 120 e 129mmHg e a pressão diastólica entre 70 e 79mmHg.

Para pacientes idosos, frágeis e/ou portadores de alguma doença terminal, a meta de pressão arterial deve ser individualizada considerando a sua expectativa de vida, comorbidades e riscos de efeitos adversos do tratamento. Podemos tolerar níveis tensionais mais altos para esse perfil de paciente.

O monitoramento regular da pressão arterial é essencial para avaliar a efetividade  do tratamento e fazer ajustes quando necessário.

Muitas vezes faz-se necessário o aumento da dose da medicação inicialmente escolhida ou associação de outras classes.

Por isso é importante manter o acompanhamento regular uma vez feito o diagnóstico de hipertensão.

O cardiologista deve definir o intervalo e a frequência das consultas caso a caso. Acompanhar de perto ajuda a garantir que as metas terapêuticas estabelecidas sejam alcançadas.

Este artigo é meramente informativo e não substitui a consulta a um profissional de saúde. Sempre procure orientação médica para questões relacionadas à sua saúde.

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